A POÉTICA DO CONTÁGIO EM "O TRIBUNAL DA QUINTA-FEIRA", DE MICHEL LAUB
Palavras-chave:
Michel Laub, HIV/AIDS, Contagion, LiteratureResumo
Neste artigo buscou-se analisar o romance de Michel Laub, “O tribunal da quinta-feira”, a partir da perspectiva do HIV/AIDS e sua inserção metafórica na paisagem literária do século XXI. Em vista dos traumas históricos produzidos pela pandemia nos anos 1980, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida dificilmente foi abordada no espaço da ficção literária canônica e tampouco essa enfermidade pôde ser usada como dispositivo metafórico na arte. Ao ter sido atrelada a corpos dissidentes da sociedade – sobretudo gays, negros haitianos, profissionais do sexo –, é possível compreender porque há um lastro de abjeção caracterizando a natureza da doença, razão que a limitaria no campo das metáforas. Logo, ao contrário de outras doenças, tais como a tuberculose ou a sífilis, largamente empregadas de forma dramática na literatura, o HIV/AIDS enfrenta certo desuso poético e certa repelência nos domínios simbólicos. A obra de Laub, revisitando a história da epidemia a partir de um soropositivo contemporâneo, apresenta uma renovada metáfora viral na qual convergem o orgânico (o vírus corporal) e o cibernético (a viralização em rede), permitindo outra percepção da doença e dos processos atuais de comunicação na internet. Por meio de tal confluência, denominada aqui como poética do contágio, discorreu-se sobre temas como gênero, sexualidades dissidentes, abjeção, contaminação, mundo virtual.
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